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POEMAS

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Poemas: Texto

ESPERANÇAR

AGNALDO ROCHA

Mesmo a hora sendo dura 
É tempo de ESPERANÇAR
Recolher-se no seu canto
Ler poesia, MEDITAR
E se a dor for bem doída
Não tem problema chorar
Deixe a lágrima escorrer
No seu rosto passeando
Escute seu CORAÇÃO
Baticun, Zabumbeando
E pense que nesse ritmo
A ESPERANÇA tá brotando
Tá nascendo um mundo novo
E logo mais, ali na frente
A gente vai se encontrar
Dar um abraço bem dado
De mãos dadas, lado a lado
VIDA NOVA CELEBRAR

Poemas: Texto

PRÉVIA DE MONÓLOGO - REPRESENTATIVIDADES
AÍLA OLIVEIRA

O que é ser representativo, afinal? Falar por vozes antes nunca legitimadas e ser o único a estampar esse script aparentemente inclusivo?
E se o próprio conceito de representatividade, por si só, for midiático, excludente, colonial e inferiorizante?
E se essa suposta representação política for a mesma lógica usada na hierarquização das experiências de minoria a partir de ideais pré-estabelecidos pelo mundo ocidental?
E se na busca por esse referencial estivermos a retroalimentar a ideia de que existem subjetividades que valem mais que outras? E que devem lucrar por sobre as outras?
Já se perguntou o que seus "seres representativos" têm em comum?

Já analisou os pontos que os fazem ser colocados como tais? Você já se imaginou em algum papel de representação?
Você se sente representado em seu âmago pelas subjetividades que falam em seu nome?
Você deseja que falem por você? Deseja que falem por sua trajetória? Sua trajetória é a sua permanência e entendimento de estar vivo? Você está vivo?

Já se perguntou se está vivo osufi ciente para os desafios do amanhã?

Poemas: Texto

A MULHER DE LOT É UM ARTISTA
ALEX SIMÕES

a mim parecem o músico e o seu instrumento
uma condensação do que me faz a arte.
não é o que escuto ou vejo, mas a parte
que me toca é o ser no exato momento
pessoal e intransferível. não o sentimento
que emite quando toca um tema, mas o que arde,
queima mesmo, faz calo, dói e, sem alarde,
o que doeu no ensaio virou sedimento
porque não é mais um que toca o que é tocado,
são uma coisa só; ação em simbiose
que faz sublimação do suor; vapor al’Ado           
a ponto de fundi-los em inversa osmose
num gesto ensimesmado e concentrado tal
que o movimento esculpe uma estátua de sal.

Poemas: Texto

UM LIDE EM MINHA VIDA
CAMILA MACHADO

Eu olho pela janela e penso: Como? Quando? Qual? Onde? Por quê?
De dentro da minha casa, vivo a minha mais nova rotina. Rotina difícil e agoniante.
Como acabei me tornando o tipo de pessoa que não quer ficar mais em casa?
Antes do isolamento, tudo era corrido e longe de casa. O irônico disso é que eu clamava para estar em casa.
Agora que estou, por que quero fugir?
A vida calma e quieta dentro de casa, comparada com o barulho e agonia de fora, me deixa com saudade do movimento agitado de lá.
Quando me tornei essa pessoa que prefere fazer várias coisas ao mesmo tempo e não aproveita o momento calmo?
Estar em meio ao silêncio me faz ouvir a baderna de dentro para confrontar meus demônios.
Qual seria a solução para enfrentar as questões internas sem enlouquecer?
Me engano às vezes, fazendo tudo o que aparece, correndo com as coisas, achando eu que assim é um modo bom de viver. Esquecendo as dores, deixando de lado, fingindo costume. Engano meu.
Onde isso tudo irá me levar afinal?
Continuarei aqui, dentro de minha casa. Vivendo um dia por vez.
Tentando encontrar a tão esperada calma.

Poemas: Texto

BERLINDA
CAMILA SANTOS DE JESUS

Velo em silêncio os mortos

Sinto a distante mirada

daqueles invisíveis olhos tortos

do portador da coroa irada


Há mil mortos ao meu lado,

Por isso me pergunto:

Outros mil cairão do outro lado

Ou verei meu corpo ali

Estendido naqueles túmulos?


O coração bate na caixa dos peitos.

Respiro, mas o ar entra e sai fino

como a ponta de um espeto.

Será este meu último suspiro?

Não consigo pensar a respeito.


O coração bate

Inspiro e expiro

Minha mente se debate

Por isso sei que ainda vivo.

Poemas: Texto

ISOLAR

CLARA CARDOSO SANTOS

Poemas: Vídeo

É ESTAR VIVO?
TATÁ UNIVERSO


Acordai.

Sem querer fumei o cigarro que encontrei no bolso da calça que vestia. Vestia teu cigarro agora.

As calçadas molhadas e o gosto de chuva na boca da menina com carrinho de bebê do outro lado da rua me fadigam, quero arremessar livros nessa calçada, embora a lei não fale nada sobre arremessar livros, parece um ato de violência.

Teu cigarro ainda está aceso.

Comprei outro dia um cartão sobre monstros, é banal ter medo de monstros, pensei enquanto lia. É uma tolice, reforcei o pensamento lembrando da minha professora de artes da quinta série, um monstro real e perfeito. Ensinava sobre decalques, cópias e coisas que claramente não sabia.

Esse cigarro é diferente... Na buzina do carro dessa noite o som do útero de mamãe.

som da placenta que guardava minha vagina desse mundo.

som de vagina que guardava o leite do peito de mamãe.

eu ouço bem.

...tem gosto de almondegas, embora eu

nunca tenha comido.


Servi no café da manhã qualquer coisa menos café. Era de lei matar-bicho pra comer de manhã. Era rotina chupar os ossos de corpos também afadigados como eu ante aquela calçada e a moça. Eu matei bicho e comi olhando no olho do bicho morto, parecia coisa de beco, olhar no olho do bicho morto e comer. No barzinho o senhor me vendia caldo de gente com pimenta eu estava arrotando João e comendo Maria. Logo tudo virava pirão:


a moça com carrinho de bebê, os livros, o ato de violência, as leis, o cigarro, logo tudo virava pirão.


Poemas: Texto

VENTO
ERNESTO STOCK

Há tempos não vestia os sapatos

Os pés secos, brancos

apoiados sobre o encosto do sofá

se confundiam com os galhos


e preferia assim, sempre preferiu

já nem se lembrava mais

dos tempos e dos calçados

e dos pés


Pela janela, observava um balão colorido,

do tamanho de um prédio

enroscado na árvore da escola


Os restos coloridos

resistiam ao vento e a chuva

se despedaçando vagarosamente


Antes de estourarem

as cordas apertavam seus dedos


Emaranhado nas folhas mais altas

também se via deitado no sofá

com os pés brotando


um pássaro enorme

construía um ninho entre seus dedos

com os retalhos do tecido


e também via com os olhos do pássaro

e também sentia o gosto

e também vivia entre as camadas de pele seca


entre o balão e o ninho

que também era ele

o tempo se despedaçava

e reconstruía


e, quando anoitecia,

nele e na distância

e não se via mais

 o pé, o balão ou a árvore


o calor do pássaro

o mantinha vivo.

Poemas: Texto

À VOCÊ 
FERNANDA AZEVEDO

Tu és uma só ilusão!
Música aos ouvidos concedida no limiar do nascedouro desse mundo,
O doce véu que aliena a luz habitada nas almas aflitas sem salvação!
Sendo o sujeito oculto de desmedida obsessão,
Suplicam o amor e a paixão abalados por essa lacuna,
Ou acalmam-se todos mergulhados em lembranças gentis,
Desejar mais do que querer o desenlace desse reencontro, não é pedir demais!
Porque tanta espera se estamos aqui!
O que tanto esperas estando aqui?
Que vejas mais que olhe, que entendas mais que ouça, que seja mais do que pensas!
A prova de que, ainda que na temida ausência, estamos dia a dia mais juntos,
Ligados pelo calor da serenidade de tão doçura influência,
Encantados por sonhos que crescem na vibração de sua presença,
E pelo tanto construído, por obra do conforto de sua permanência,
Só encante como nunca visto antes, na levada do toque que te comove,
Ascendendo a chama que suavemente clama por fundir-se na dimensão celestial,
Falando de dentro para fora, caminhando de baixo para cima, correndo para frente, muda-se o sentido sem sair do centro,
Descendo, proteste a procura da subida! Berre de qualquer jeito, agarrando a ascensão sem temer a desventura da descida,
Insista de um lado para o outro se te encontras na noite perdida,
Não desista diante da inexistência da cadeia recíproca do amor de quem amas.
Apenas seja o seu próprio sentido, apenas ame o que vale, o que sabe, e o que arde diante da força do amor e da vida

Poemas: Texto

FRUTO
HEDER NOVAES

Fé no fruto
que é força
e futuro
Amor
é presente
diária, natural
e singular [mente]
Laço, abraço
e nó
tudo num cordão só
A recompensa pra quem ama
é o amor
É o aprendizado de todo dia
Um abraço quente
como cobertor
Felicidade
é feito fruta fresca
de manhã
É cheirin de hortelã
Romã
Toda criança
que cata fruta do pé
valoriza a árvore
entende quem é
Se sente parte do todo
Abraça a natureza
como abraça mainha
E vem pro mundo
noutra sinfonia
Sendo regênte
do próprio concerto
Guiando seus caminhos
Abrindo suas asas
E avuando

Poemas: Texto

DA JANELA
HUGO MAURI

E de tantos passarinhos que na gaiola
Colocamos para termos o estranho
“prazer” de ouví-los cantar
Hoje, da janela de casa, os observamos
livres a voar
A casa, virou a nossa gaiola
A liberdade, foi restrita
Resume-se as quatro paredes que
vivemos e as idas e vindas em busca do
que se alimentar
Amarraram as nossas asas
Estreitaram os nossos caminhos
Desfizeram os nossos laços
Distanciaram os nossos abraços
Porém, esqueceram-se que nascemos
com o dom de se reinventar
Que podemos ser livres, sem nem sair do
lugar
Que a casa é abrigo, e não prisão
Que a distância é saudade, e não solidão
Da janela de casa esperamos o dia de
reencontrar

Poemas: Texto

DEPRESSÃO
TAYMERÊ FONSECA

Poemas: Galeria

ESTOU VIVO
JOTTA JOTTA

Olha que  bom

Em plena segunda-feiraEu deitado ainda? 

E na janela me acusa que vai chover

Pois o céu 

Hoje amanheceu cinza. 


E eu de preguiça aqui deitado debaixo do cobertor 

Sem saber se era um "dia de preto/branco"

Para um dia comum de trabalho

Ou qualquer outra mistura de cor. 


As mudanças embaralham minha cabeça, 

Pego o controle, ligo a Tv, e o jornal repente toda hora

Para que não esqueça; 

" FICA EM CASA! "

Essa loucura toda vai passar, 

O confinamento é pro bem, relaxa... 

E não enlouqueça. 


Tão logo me levanto

Em um breve momento, paro, e reflito:

" Continua caminhado..."

Sua correria agora é de casa

Respira fundo e sinta

O quanto você está vivo.

Poemas: Texto

ESTOU VIVO
asas no meu corpo poesia
JANAH FERREIRA

Poemas: Vídeo

FORÇAS DA NATUREZA
JOÃO MELO

Eu sou o vento que sopra com força

Com muita força

Que assusta, derruba casas

E tudo que não esteja firme

Renovo, mas não sou brisa


Eu choro a minha tristeza

E minhas lágrimas são a tempestade

Que alaga todas as ruas

Meu amor, meu bem se proteja

Agora não vai chuviscar

Mas depois ganharás a Lua


Eu faço os olhos cegarem

Com o brilho da minha manhã de Sol

Trago bastante alegria

Mas o dia não será morno

De tão cálida, te confundo

Não queira brasa onde há fogo


Eu sou agora e não sou depois

Sou depois e não sou agora

Eu sou a própria vida

No limiar das possibilidades

O Universo expande e contrai

E nada está fora de mim

Pois trago comigo a verdade


Se quiser saber quem eu sou

Suporte o frio

Desça comigo

E congele na minha dor

Até sua ferida curar


Ou sinta o calor

Da minha chama

Se eleve, transcenda

E com a ponta do dedo

Se você me ama

No céu você pode tocar


Mas venha com muito cuidado

Não solte da minha mão

Nem tente voltar sozinho

E olhe bem pra mim

Pois não sou guia

Eu sou o caminho

Poemas: Texto

SUFOCO
JOÃO PEDRO ROSA DE CARVALHO

Ligeira, a insônia bateu

Encostou-se no vácuo seu

Para longe o vento soprou

Seu corpo distante do meu


O vento soprou para longe

O vento envenenado

Matou de mim sua presença

Sentença que fui condenado


Meu peito bem afastado

Sufoca em bom estado

 Meu peito no quarto trancado

Sufoco distante do seu


Sem sono sonho no quarto

Alguém quer se fazer presente

Não teria só nós dois no ato

Ela sonha em deitar-se com a gente


Saudade é lembrar  dos seus lábios

Com meu riso involucrado

Encolhido enquanto a morte dança

Para, ao fim, os tirar da lembrança

Poemas: Texto

FORÇAS DO VIVER
JOSÉ SANTANA

Tudo que rodeia desola

Filas tristes, rostos marcados, corpos cansados.

O horizonte desenha o de sempre:

A corda bamba, o perigo, a dor e a iminência.

Vidas a atravessar o destino no jogo do equilíbrio

Cai, não cai

A chuva que fecunda a terra por além,

Aqui tragédia.

Contudo, a energia empurra

E a vida grita.

Grita seu grito de guerra no largo sorriso

Sincero

 Ardente.

Vida se mostra nos braços

A abraçar com bem querer.

Esperança sem fim, teima em se renovar.

Oh fontes eternas de ser,

Oh milagres de lutar,

Ensina aos entes vazios que habitam a opulência

Que só conjugam os verbos oprimir, explorar e ofender

Mais uma vez, oh seres da vida, mostrem sua altivez

Mostrem a esses corações ocos, mentes pobres e carentes,

Por caridade,

O que é, realmente, viver.

Poemas: Texto

ITINERÁRIO SAUDADE
LÍVIO

esse meu teto abobadado

sabor grafite 1.6

abre miradas outras

sobre o que foi

e freguês

quem sabe

 sobre o que será

amanhã talvez


daquele tempo

pretérito imperfeito

porém sujeito

e também cenário

território encantado

da mais difusa alegria

dessas de grade vermelha

mesa amarela

banheiro alagado

jogo de futebol na TV

trago num cigarro

e aviões no rádio


ou talvez daquelas

alegrias imensas

com torre de igreja

palmeiral

cidade

e canal

temperada a exercícios

comer barato

e amigo do lado


e pros dias fatigados

pós trabalho

tem calçadão padaria

primavera ensolarada

ambulante abusada

sabor gelado

cigarro aos maços

 leitura

pros dias solitários


sem esquecer também

da sabor cajarana

movimentada

margeada de vem e vai

enquanto nós lá

é alegria parada

pensando no que foi

não foi

e será


a budega sem porta

talvez a mais famosa

a que menos me cativa

sabor burguesia falida

porém

contudo

todavia

a única sabor toda hora

todo dia


a sabor agronomia

lembrança amarela

tempo desbotado

no alpendre

na varanda

no posto

na sala

ou em calourada

segundas que não voltam

nem eu queria

evita o desencanto

mantém em nostalgia

e o caminhar pra frente


mas jota

esse sabor primal

eu não largo

é o prato principal

onde fiz meu paladar

descobri mais sabores

desfrutei pudores

e vivi poesia

celular de caminhada

calçada

risada

praça

pop cult bacaninha

de bairro

o meu e dos outros

posto

esculacho

festa

fim de festa

e terceiro estágio


eis por fim temporário

meus mais delicioso

itinerário

Poemas: Texto

MINHA CACHOEIRA

LIZ DANTAS


Minha cachoeira...

Se todos fossem como tu és,

tu não serias

como todos!

LIZ_DANTAS.png
Poemas: Imagem

BEIJA-FLOR
MAÍRA PASSOS

O beija flor apareceu para mim

Convalescente, vacilante, disse que era tempo de desistir...

Com o coração pequeno, apertado, recuei

É o curso natural da vida, pensei.


Mas a interrogação veio em seguida,

Implorando por saída.

Sob a resiliência, retornei e prontamente lhe falei:

Você está vivo!


Paciência, supliquei,

O cuidado está a caminho!

Ora medo, incerteza, ora altruísmo e esperança

A instabilidade era pano de fundo... E se?


Em 13 frágeis gramas se revelou a potência da vida...

Firma as garras, ressuscita!

O beija flor bateu as asas e voou longe...


Azul esverdeado, apareceu por aqui hoje...

Disse a ele, agora é meu o recolhimento,

Estou em isolamento...

E ele me fitou por alguns segundos como se dissesse:

Você está viva!

Poemas: Texto

ITA
MARINA MARTINELLI

tenho sentido saudades

cerzido furos

deitado fora

arado para o que fica

aceno ao que deixo embora

tenho me cumprido

coisas que tinha me prometido

tenho sentido falta

de multidões fora de mim


venho sendo litoral

para cada pensamento que me chega

do mais feio ao mais salgado

deixo chegar todo o medo

(chegar quer dizer bater,

com a estrondosa calma

da onda espancando a areia)


e nada disso é grande

nada disso é nobre


é doloroso inventário

depois de uma série de incêndios


e me permito o prazer

de gostar de terrível cheiro

delicioso

de algo que queimara...

que eu gosto das histórias que contam

ruínas, feridas, troncos retorcidos

Poemas: Texto

AMOR DE MÃE
PAULO NERY

Poemas: Vídeo

REMINISCÊNCIA
PEDRO DEL MAR

O calo aperta

O eixo desagua

O cais arrebata

Transborda no nada.


Quando falta, a memória salva

Ou mata, depende da alma

Afetiva ou disruptiva

Um trem de passagem ou uma fúria intempestiva.

Poemas: Texto

ISOLAR-SE
CÁSSIA VALLE

Isolar-se
Ação de proteção
Cuidado e auto amor
Isolar-se
Verbo de conjugação dolorida
Em tempos de máscaras, luvas e redes
Isolar-se
Verbo de ordem em tempos de medo, solidão e muita dor
Contradição dos novos tempos.
E nós afastando dos nossos, que nos isolamos do perigo.
Onde antes ouvíamos juntos somos fortes
Agora é: isolados nos protegeremos mais

Poemas: Texto

RODRIGO CHAGAS

Não há passos na rua de cima

Apenas eu & Clarabela

caminhamos com nossas 6 patas

em calçadas que nem sabemos se estão contaminadas.


O velho senhor esfarrapado & barbudo

não está mais dobrando a esquina

com seu cartaz anunciando a aproximação do fim.

Talvez o recado tenha sido

dado

ou o medo escatológico

congelou seus pés...imobilizando-o.

Ou tenhamos que dizer mesmo...adeus.

Solto a coleira

Clarabela corre através da grama - sorridente.

Poemas: Texto

CORDEL: A PERIFERIA DE SALVADOR NA LUTA CONTRA O CORONAVÍRUS
SÉRGIO BAHIALISTA

Meu povo tão querido

Das nossas periferias

Não pense que covid

É doença da ricaria

Se isso pega na gente

Mainha é que logo sente

Dia e noite, noite e dia


O povo lá da Barra

E corredor da Vitória

Já tá tudo dendicasa

Lendo pros filhos história.

E Nosso povo do Uruguai

Pega e pro baba vai

De forma contraditória


Pega visão, meu povo!

NÃO É DOENÇA DE RICO

Agora vai ficar moscando

Com essa ideia de girico?

Marca a resenha no zap

Pra que covid escape

E dê pra curtir o Psirico


E se na sua quebrada

Insistir em ter paredão

Poo, manos e manas

Ooo, na moral, vá não!

Deixa esse doido lá

Sozinho pra ele se tocar

Sair com cara no chão


Ter Sambão na favela

Por agora tá por fora

Bota Ferrugem no som

De casa e se joga.

Bote a sofrência danada

Pablo e Unha Pintada

Pra bater certo agora


Vá ler um livro bacana

Na Netflix se acabar

Série atrás de filme

Se acabe de dançar!

E no jogo de tabuleiro

Junte a família primeiro

E vá brincar pra danar!


Dê ideia de longe, Véio.

Para de "nuzoto" relar

Oxe. Tu agora é velcro

Pra nas coisas se grudar?

Dê um salve lá de cima

De longe, fale com a mina

Breve vamos se beijar!


Façamos a nossa parte

O corona vai cair

Ressaqueado se pique

Agora! Vá! Pode sair!

Baiano é miserê, papá.

Outra batalha bó ganhar

Zelar pelo povo já

Obrigando o vírus sumir

Poemas: Texto

ESTRANHA (MENTE)
VITOR SOUSA

Como são estranhas essas horas:

     travestem-se de agora

     sendo filhas de outrora.


Como são estranhos esses momentos:

     exibem-se nus ao tempo

     sendo mero pensamento.


Tanto quanto estranhos são,

       estranho também me vejo:

       penso que controlo o tempo,

       finjo que escolho a hora,

       sendo outrora mero filho

       do que agora desejo.

Poemas: Texto

POEMA SEM BEIRADA
WENDERSON MOTA

o dia acorda pouco antes
de o sol no seu lugar
de sempre apontar
sob a serra do pintado
a luz do dia que nasce.
deitado sobre mim me achego no teto
alto da casa nova
me fito no
espelho ao lado
da cama
no ar quente do quarto
fechado.
o mundo acordado vibra enquanto o dia
ressona
insone.
dia que não dorme
homem que não dorme
mulher que não dorme
por que dormir se mostrou insuficiente
e o dia e o mundo
vibram lá fora em uníssono acordados desde antes
todos.
ouço dalgum lugar – lugar nenhum,
dalguma gente – gente que não há cá comigo
que devo me aprumar respirar
as árvores andar as ruas viver o dia por que
manter-se de pé não é suficiente por que
comer é pouco eficiente por que correr é a inconsequência
do ato que não houve.
E falando no diabo
viver é um ato
de revolução dizem as páginas do jornal inda não lido
mijado pelo cachorro caramelo e esfomeado
senhor de si e da rua vazia
e em casa prisioneiros o que nos insulta
o que preocupa
é o porque.

Poemas: Texto
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